Cidadania
GRUPO PRIMAVERA- Arte em mudar destinos
Por Leila de Oliveira
leila@estilocampinas.com
Segundo o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, "uma ONG se define por sua positividade política, postura sem fins de lucro e foco em ajudar a desenvolver uma sociedade democrática fundada nos valores como liberdade, igualdade, diversidade, participação e solidariedade",(...). Tal como Betinho, Jane Sieh, é socióloga e compactua dessa premissa desde 1981, quando fundou juntamente com mais três amigas, todas voluntárias, uma ONG no fundo do quintal do posto de saúde do Jardim São Marcos, direcionada à socialização de meninas carentes. Instalada em um dos bairros mais carentes e violentos da região norte de Campinas, o Grupo Primavera nasceu com a missão de dar assistência às meninas daquela localidade e adjacências e mudar o curso de suas vidas. Jane Sieh nasceu na cidade de Xangai, na China, foi criada nos Estados Unidos e chegou ao Brasil em 1965. Seu interesse em ajudar o próximo se acentuou em meados de 1979, antes de fundar o Grupo Primavera, numa região marcada pela desesperança: o Jardim Itatinga, em Campinas – tradicional área de prostituição de Campinas. Na ocasião, apesar de seus esforços, o trabalho de orientação e encaminhamento aos cursos profissionalizantes propostos na época não eram suficientes para convencer as mulheres dali a saírem daquela situação. Nesta empreitada, notou que muitas eram oriundas da região do Jardim São Marcos, mulheres que sem preparo profissional, incentivo e orientação, viam o local como único meio de fonte de renda. Jane percebeu que a solução era impedir que chegassem ao Jardim Itatinga. Nascia então o Grupo Primavera, com a missão de promover junto às meninas com idade a partir de 11 anos, a inclusão social através do resgate da auto-estima, inserção à cultura e preparo para o trabalho. A idéia era prepará-las para deixar a ONG aos 18 anos de idade lutando por um futuro digno. O projeto deu certo e desde a sua fundação, cerca de 2.500 garotas carentes puderam mudar o presumido curso de suas vidas através dos programas da instituição. "A mulher atua como agente transformador. Ao promover seu desenvolvimento, os resultados beneficiam diretamente toda a comunidade e sociedade", explica a diretora pedagógica Ruth Maria de Oliveira, na casa há 4 anos.
Destinos mudados
Os números que circundam a história do Grupo Primavera impressionam. Os prêmios de reconhecimento decoram a entrada da ONG, que atualmente conta com 46 funcionários e mais de oito mil pessoas da comunidade beneficiadas indiretamente, através da prestação de serviços à instituição. Impossível, porem é dimensionar o impacto positivo desse trabalho, não só para os vários bairros que compõem a região atendida, mas para a população de Campinas. “Ao proporcionar base cultural, emocional e profissional a essas meninas, quebra-se o ciclo perigoso criado pela junção dos fatores pobreza, desestruturação familiar, violência social e falta de exemplos a seguir. Algumas meninas chegam aqui de pijama, sem noções mínimas de higiene, tal o nível de abandono familiar. A maioria vem de lares desestruturados, algumas são vitimas de abusos, e se não tiverem apoio emocional, acabam desistindo do programa”, conta Ruth. Atualmente, a entidade atende cerca de 400 jovens e abre 70 vagas a cada ano. Em breve, a idade mínima para o ingresso dessas meninas ao Grupo Primavera baixará de oito para seis anos. “Quanto mais cedo, melhor resultado teremos”, explica Ruth. Os programas educacionais disponíveis na ONG são tantos que dariam uma reportagem para cada um. Em comum, eles têm o respeito à diversidade e a preocupação com a qualidade e continuidade. O resultado de todo esse projeto são ex-garotas primavera, hoje, jovens mulheres, com formação técnica, trabalhando em multinacionais e grandes empresas da região, ou que optaram por continuar no Grupo, trabalhando e recebendo por isso. Há cerca de dois anos, fiz uma reportagem com as mulheres do Jardim Itatinga. Não conhecia ainda o trabalho do Grupo Primavera, mas curiosamente, pude notar que mais de 80% das entrevistadas eram originárias de outras cidades. Coincidência?
Há 11 anos, o Brasil perdia Herbert de Souza, um dos expoentes na luta contra a fome e miséria.
O Brasil precisa conhecer a socióloga Jane Sieh e sua arte de alterar destinos.
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