A MATERNIDADE PODE ESPERAR
Em nome da carreira profissional, mulheres adiam ao máximo o sonho de ser mãe
Por Leila de Oliveira
leila@estilocampinas.com
Premeditado ou não, o fato é que a decisão de adiar ao máximo a chegada do primeiro filho é um comportamento cada vez mais comum entre as mulheres na faixa dos 40 anos. Segundo dados do IBGE (2004), elas já ocupam 45,5% das vagas de trabalho no Brasil, e as possibilidades de ascensão na carreira vêm se tornando prioridade para grande parte dessa população. Ainda segundo a pesquisa, estas mulheres vivem nos grandes centros urbanos, têm mais de oito anos de estudo, são economicamente ativas e vivem em união estável. Por estarem no centro desta transformação social, a vontade de se tornar mãe, parece resistir à emancipação financeira. Mas segundo médicos, a opção de adiar a gravidez envolve riscos, e as preocupações que rondam o assunto têm respaldo científico. Ao contrário dos homens, que produzem espermatozóides durante toda a vida, a mulher já nasce com todos os óvulos, que envelhecem, juntamente com os ovários. Em razão disso, pelo menos metade das mulheres com idade a partir de 40 anos que resolver ter o primeiro filho precisará de algum tipo de ajuda médica especializada. A informação é do médico ginecologista George Farsola, especialista em Reprodução Humana pelo "Fertility Center of Atlanta" (Atlanta, EUA), que atua em São Paulo e Campinas, onde é responsável pelo Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Madre Theodora, em Campinas. Há cerca de três meses, o Dr. George abriu uma clínica de reprodução humana na cidade. De lá, concedeu a seguinte entrevista sobre o assunto ao Jornal Viva Melhor:
Segundo dados do IBGE, a maternidade para as mulheres acima dos 40 anos é uma tendência nos grandes centros urbanos brasileiros. Estamos diante de uma nova conjuntura social?Eu diria que é mais econômica do que social. A ascensão da mulher no mercado de trabalho e o aumento da expectativa de vida são alguns dos motivos que estão levando a um redirecionamento nos planos de vida, habituais até então. A maternidade tardia é um reflexo dessa nova realidade.
Qual o perfil das pessoas que buscam auxílio médico para terem o primeiro filho?Mulheres e casais que com o ritmo acelerado de vida e trabalho, adiam por anos a decisão de terem um filho, muitas vezes sem se darem conta da passagem do tempo.Pelo menos metade das mulheres que resolve engravidar depois dos 40 anos precisará de algum tipo de tratamento. Também trabalho com casais jovens que enfrentam dificuldades, e neste caso, independente do diagnóstico individual, costumo orientá-los no sentido de que entendam que a responsabilidade é de ambos.
No futuro, serão muitas as mães de sessenta e poucos anos às voltas com os problemas de jovens de vinte, o que é pouco comum nos dias de hoje. Há uma preocupação quanto a esse cenário em termos de comportamento, principalmente?É claro que o corpo envelhece, e a disposição de uma mãe de 40 anos não é a mesma de uma mãe de 60. Mas atualmente a qualidade de vida das pessoas é infinitamente melhor do que há 15 anos. A população está mais consciente da importância dos exercícios físicos e de uma alimentação saudável. O fácil acesso à informação também ajuda na interação e diminui as diferenças culturais entre pessoas de idades distintas.
Alguns médicos alertam para o agravamento de algumas doenças, como hipertensão e diabetes, nos casos de gestações em mulheres com idade acima de 40 anos...Discordo dessa relação, por que em caso de qualquer risco para a mãe, o tratamento para a gravidez deve ser desaconselhado, até que a doença esteja sob controle.O que pode ocorrer é a alteração do método de tratamento para garantir a saúde da futura mãe, como por exemplo, a utilização do “útero de substituição”. O propósito da reprodução assistida é de fazer famílias felizes, e isso implica no bem estar geral de todos os envolvidos.
A medicina já permite uma forma de postergar a maternidade de forma segura e menos estressante do que com a utilização dos tratamentos conhecidos?Um meio simples e seguro para os casais é o congelamento do embrião ou o congelamento de óvulos para mulheres que não querem engravidar antes dos 35 anos.A fertilidade está intimamente relacionada à idade da mulher.Depois dos 30 anos, a qualidade dos óvulos fica menor, e diminui ainda mais a partir dos 35 anos. Sou um entusiasta desta técnica, ainda pouco difundida, pois permite frear o envelhecimento do óvulo a partir do momento em que ocorre o congelamento.
Consultoria para a realização da matéria:Ginecologista George Farsola, especialista em Reprodução Humana pelo "Fertility Center of Atlanta" (Atlanta, EUA) e responsável pelo Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Madre Theodora, em Campinas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário