quarta-feira, 17 de junho de 2009

MATÉRIA FEIJOADA -Jornal Estilo Campinas Junho/09

FEIJÃO MARAVILHA
Junto com a estação inverno, a cidade vira palco para a “Temporada de feijoadas” quando o prato vira tema para as mais variadas festas.

Por Leila de Oliveira
leila@estilocampinas.com

A biografia de um dos pratos símbolo da culinária nacional, a feijoada, comporta diferentes versões sobre sua origem. A mais conhecida é a de que o senhores das fazendas de café, das minas e dos engenhos de açúcar davam aos escravos os "restos" de partes dos porcos abatidos.Entretanto, alguns historiadores, rebatem essa tese, e afirmam que o prato já fazia parte do cardápio dos senhores e da nobreza, ainda em 1889. Recibos da época, de casas de comércio no Rio de Janeiro com a descrição de miúdos de porcos em sua relação comprovam, segundo os historiadores, que a Feijoada não teve origem modesta e que a versão mais conhecida trata-se de visão romanceada das relações sociais e culturais da escravidão no Brasil. A origem do prato divide opiniões, mas a feijoada desfruta de aceitação quase unânime, seja pelo sabor ou pelos eventos que tem a especiaria como tema.Já a algum tempo, em Campinas, que, junto com a estação de inverno vem também a “Temporada de feijoadas”. Das casas mais tradicionais da cidade aos mais recentes bares, ter o prato como tema principal do evento, torna-se sinônimo de casa cheia, mesmo com preços –com o perdão do trocadilho- salgados.Os perfis distintos de cada evento comprovam que a feijoada é aceita por todos os tipos de público, por isso o tema é explorado por tantos estabelecimentos em Campinas.A choperia Catedral realizou recentemente sua terceira edição da festa. “Em menos de um mês, os 600 ingressos se esgotaram, e a cada ano, a procura é maior”comemora o Gerente geral da casa, José Carlos D. Bichega, 37.Os preparativos para a festa envolvem toda a equipe da Choperia – cerca de 70 pessoas, e o “mise en scene” começa com uma semana de antecedência. Segundo o gerente, além de funcionar como evento gastronômico e de reunião entre os freqüentadores da casa e cidadãos, é prazeroso também por seu contexto beneficente . “A carga horária de trabalho dos principais envolvidos, como eu, e o Chefe de cozinha Abel Braga aumenta em 40 % neste período, mas é recompensador saber que se trata de um evento de sucesso, com comida e organização elogiados a cada edição, além de sabermos que 50% de toda a arrecadação é revertida para o Banco de Olhos de Campinas”explica José Carlos.Há também quem aposte alto na busca por sabor para atrair a clientela.Quase novata na incursão de temporadas do prato na cidade, a Chef Fabi de Moraes, 26, tem público de veterana em sua feijoada mensal, no espaçoso O Cajueiro. A pouco mais de um ano a frente do restaurante, ela credita o sucesso, dentre outras coisas, aos rígidos critérios de qualidade na escolha dos ingredientes, esmero no preparo dos pratos, e sutileza para observar a aceitação e até opinião sobre um ou outro detalhe. ‘O ambiente propicia um clima familiar, e alguns clientes se sentem a vontade para elogiar, comentar ou sugerir mudanças em algum prato”conta a chef.
Democrática, a Feijoada também dá nome e recheio a um dos principais focos de agito do ano na cidade; a “Feijoada do Seo Rosa”. Sob o comando do empresário Ricardo Capucci, a festa deste ano,para cerca de 1.200 pessoas, será no dia em 04 de Julho, e promete esgotar os convites em tempo recorde, apesar dos preços nada convidativos.
Aos 33 anos,o dono da festa amealhou fama pela proeza de atrair público qualificado e parcerias renomadas em qualquer festa ou evento que leve sua assinatura. Tais benesses, no entanto, não o livra dos dissabores da visibilidade. Classificado por parceiros e ex-funcionários como polêmico, exigente e perfeccionista, ele costuma atribuir seus êxitos por fazer valer, em qualquer negócio, o cumprimento de seu principal lema: criatividade e organização.
Motes para as inúmeras comemorações que estão por vir, á parte, é curioso perceber a evolução social do prato feijoada, e nesse contexto,difícil evitar que o fato nos remeta a 120 anos atrás, época da abolição da escravatura no Brasil. Infelizmente, salta aos olhos a constatação de que a mesma ascensão ainda não pode ser notada em outros estratos de camadas sociais que também representam esse triste período de nossa história.

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