sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Entrevista: FERNANDO MEDINA- Jornal Estilo Campinas -AG/09

LONGEVIDADE E SAÚDE

Um dos maiores especialistas em oncologia fala sobre os cuidados para se manter saudável e inibir o aparecimento das “doenças da idade”, como o câncer

Por Leila de Oliveira
leila@estilocampinas.com

Segundo dados divulgados no IV Fórum da Longevidade, promovido por um importante banco nacional, a questão central a respeito do tema não é sobre “como viver mais”, mas como “planejar a qualidade de vida que teremos em nossa longevidade”.
No Brasil, o número de pessoas com idade superior a 60 anos já chega a mais de 18 milhões, e segundo projeções do IBGE, este numero poderá saltar para 64 milhões, até o ano de 2050.
Os dados acima chamam a atenção para uma patologia diretamente relacionada ao fator idade avançada, e cuja incidência aumenta a cada dia: o câncer.Apesar de temida, os maiores avanços da medicina para esta patologia datam de apenas três décadas atrás.
Quem afirma é o médico oncologista clínico Fernando Medina da Cunha. Há 33 anos, ele comanda o COC - Centro de Oncologia Campinas,considerado referencia nacional em pesquisa e atendimento para os casos da doença, cujo número de atendimentos ultrapassa a casa dos 40 mil,sendo que destes, 33 mil por novos diagnósticos.
O câncer é também uma doença social, e o aumento no numero de casos vem de encontro ao fato de as pessoas estarem vivendo mais” diz. O médico afirma também que apenas no estado de São Paulo,a estimativa é de cerca de 70 mil novos casos por ano.
Se a previsão do aumento nos casos da doença é uma constatação, como se prevenir e entender as minúcias do câncer, segunda maior causa de mortes em mulheres, e terceiro motivo entre os homens?
De seu consultório, no Centro de Oncologia de Campinas, o médico e diretor gentilmente nos concedeu a seguinte entrevista:


Como se analisa a questão “grupos de risco”, no aparecimento de câncer no organismo?

O câncer é uma doença genética, ou seja, consiste na alteração gênica, e os tumores nascem da falha deste processo natural de renovação celular no corpo. Além disso, a doença tem a característica única do efeito metástase, que é a capacidade de migração do tumor primário para outro local do corpo.
O câncer pode ser classificado como doença social, mas seu aparecimento também está relacionado a cerca de 100 doenças,como diabetes,hepatite,obesidade.Cada uma destas doenças pode evoluir para um quadro de câncer de uma maneira peculiar em cada indivíduo, levando-se em conta alguns fatores, como idade, condições gerais de saúde e questões hereditárias. São fatores distintos, que variam de acordo com o grupo social em que se está inserido e o ambiente em que vive.


De que forma essas diferenças influenciam no tipo de câncer?

Os tipos de cânceres conferidos na região Sudeste, por exemplo, são similares aos de alguns países de primeiro mundo, cuja incidência são os do tipo de próstata, entre os homens, e o de mama, entre as mulheres.Dentre outros fatores, ambos são muito comuns em pessoas com mais de 50 anos, e o aumento na expectativa de vida é uma tendência em regiões desenvolvidas. Felizmente, junto com o aumento dos casos, o sucesso nos tratamentos também aumentou, um sinal positivo de que as pessoas tem levado a sério a questão da prevenção, numa atitude consciente de que a cura depende do estágio em que se encontra o tumor.

Qual a importância do exame de sangue na prevenção do câncer de próstata?
O crescimento das células da próstata, tanto saudáveis quanto as tumorais, se dá através de um processo natural do corpo, pela DHT, substancia que faz parte do hormônio masculino,a testosterona. O exame de sangue detecta a quantidade de PSA,que é a proteína cuja presença no organismo pode indicar a iminência de câncer. Esse procedimento é complementar ao processo de prevenção, e não exclui a necessidade de outros exames, como o de toque e o de ultra-sonografia transretal, que poderão indicar corretamente se há alterações no tamanho da próstata e presença de células cancerígenas.


Até que ponto o fator hereditariedade influencia no aparecimento da doença?

A probabilidade da reincidência de câncer em pessoas com grau 1 de parentesco com quem já teve a doença mais que dobra. Nesses casos, os exames devem ser feitos com pelo menos 10 anos de antecedência em relação a quem não tem casos na família; ou seja, por volta dos 40 anos, para homens. Quanto as mulheres, as que optam por terem filhos depois dos 30 anos, ou de não os terem, devem redobrar a atenção preventiva quanto aos exames de mama e ginecológico,pois estão mais propensas a desenvolverem tumores dos que as que tem filhos mais precocemente.


O tratamento de câncer sempre esteve relacionados a uma rotina desgastante para o paciente, devido aos efeitos colaterais. Houve evolução na forma de tratar o doente?

Até meados dos anos 70, o tratamento era sob o foco cirúrgico, com a extirpação total do órgão infectado pelas células cancerígenas. Mas como já falamos, em alguns casos o tumor migra de local, reaparecendo, muitas vezes, de maneira ainda mais agressiva ao corpo. Essa descoberta levou a classe médica a propor tratamentos de forma sistêmica, o que nos levou aos métodos de quimioterapia e a radioterapia, como forma de bloquear e cessar a circulação da células cancerígenas. Atualmente, em alguns casos, o índice de cura chega a 65%, mas existem constante pesquisas na tentativa de descobrir substancias e desenvolver medicamentos que ajam de forma eficiente, sem provocar tantos efeitos colaterais.

Além dos exames de prevenção, quais atitudes deve-se adotar, na busca por mais saúde e qualidade de vida?


O primeiro passo para evitar a doença é cuidar da saúde do corpo, para que este possa desempenhar suas atividades de forma saudável.É o que eu chamo de “prevenção primária”, ou seja, se alimentar de forma correta, não fumar, beber com moderação, ter cuidado ao se expor ao sol,e praticar exercícios pelo menos 30 minutos por dia. A prevenção secundária são os exames clínicos.O controle no aparecimento, e mesmo o sucesso no tratamento da doença depende muito da postura de cada um perante a questão. Em suma, envelhecemos como vivemos.

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